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Em um marketplace digital, onde integrações sustentam a operação de milhares de sellers, o uso de APIs e Rate limiting é a base do modelo de negócio. Dois perfis de marketplace coexistem nesse ecossistema: o Marketplace In, que recebe produtos, preços e estoques dos sellers; e o Marketplace Out, que envia pedidos, status de entrega e demandas de compra. Ambos são intensivos em chamadas de API e exigem mecanismos robustos de controle e proteção.

É nesse contexto que o rate limiting torna-se uma decisão de arquitetura. A estratégia define quem acessa, quanto acessa e em que ritmo, influenciando diretamente na experiência dos parceiros e na segurança da plataforma.

Insights

1. Rate limiting protege e permite o consumo responsável da infraestrutura

Limitar o acesso a APIs ajuda a evitar abusos, mas também impõe disciplina no uso da plataforma. Isso permite previsibilidade operacional, estabilidade contínua e distribuição justa dos recursos entre clientes e parceiros.

2. A escolha entre backend ou camada externa define o comportamento do sistema sob carga

Decidir se o rate limiting será implementado no backend ou antes da aplicação impacta diretamente a eficiência da arquitetura. Soluções como gateways e WAFs filtram tráfego antecipadamente, enquanto o backend responde melhor a restrições contextuais e lógicas específicas.

3. No .NET, o middleware de rate limiting oferece agilidade, mas impõe desafios operacionais

Embora prático e integrado ao framework, o middleware de rate limiting no .NET consome recursos do servidor antes de barrar excessos. Essa abordagem exige cuidado com a ordem dos middlewares e atenção especial em ambientes distribuídos.

    Controlar o ritmo de acesso é uma necessidade estratégica

    Implementar rate limiting é uma forma de proteger a aplicação contra comportamentos abusivos, garantir a disponibilidade dos serviços e manter o desempenho consistente. Em plataformas, como marketplaces, qualquer instabilidade pode afetar não somente os clientes, como também uma cadeia de integrações e serviços interdependentes.

    Existem várias razões pelas quais o uso de rate limiting deve ser considerado parte essencial da arquitetura:

    Em vez de ser visto como uma barreira, o rate limiting deve ser compreendido como um regulador de qualidade e estabilidade. Quando bem aplicado, ele organiza o uso da infraestrutura de forma justa e escalável, aumentando a robustez da plataforma e contribuindo diretamente para a satisfação dos parceiros de integração.

    Rate Limiting organiza o uso de recursos compartilhados em ambientes de integração intensiva

    O volume de chamadas em um marketplace cresce exponencialmente com o aumento do número de integrações. Sellers, ERPs e plataformas externas operam de forma automatizada e, em muitos casos, agressiva. A ausência de limites bem definidos gera competição por recursos, degradação da performance e, eventualmente, instabilidade no ecossistema.

    Por isso, o rate limiting deve ser tratado como uma camada de governança. Ele define as regras de engajamento entre sistemas externos e a infraestrutura. Estabelecer cotas por cliente, limites por IP ou por rota é uma forma de manter a previsibilidade do sistema sem comprometer a escalabilidade.

    Outro ponto de atenção é a diferenciação entre rate limiting e throttling. Enquanto o primeiro impõe barreiras quantitativas, o segundo atua de forma responsiva, reduzindo o ritmo de processamento com base em métricas como latência ou uso de CPU. Utilizar ambos de forma coordenada permite criar sistemas resilientes, que se adaptam à carga e protegem a experiência do usuário final.

    Rate Limiting no backend é uma alternativa válida, mas que exige compreensão sobre sua localização na arquitetura

    A Microsoft introduziu suporte nativo ao rate limiting através do Microsoft.AspNetCore.RateLimiting, permitindo que aplicações adotem essa funcionalidade de forma declarativa e flexível. Essa funcionalidade abriu caminho para que equipes considerem a implementação diretamente na aplicação. Mas é realmente responsabilidade da aplicação fazer esse controle?

    A resposta está no contexto e nas restrições da plataforma. Em ambientes com limitação orçamentária, onde a aquisição de um API Gateway, WAF ou qualquer outro meio para este controle não é viável, utilizar o middleware nativo é uma alternativa coerente. Por outro lado, essa escolha traz implicações importantes que precisam ser compreendidas.

    A principal limitação é que a requisição já chegou ao servidor. Mesmo que seja bloqueada pelo rate limiter, ela já consumiu recursos de rede, ciclos de CPU e conexões. Em sistemas de alto volume, isso pode se tornar um ponto crítico.

    Outro fator relevante é que a ordem dos middlewares importa. O Microsoft.AspNetCore.RateLimiting precisa ser um dos primeiros na cadeia de execução, mas ainda assim pode ser precedido por middlewares obrigatórios, como roteamento ou autenticação. Isso significa que parte da aplicação pode estar sendo processada mesmo para chamadas que serão descartadas.

    A implementação no backend também exige cuidados adicionais em ambientes distribuídos. O controle de limites pode necessitar de sincronização entre instâncias via cache distribuído, o que adiciona complexidade e pontos de falha.

    Portanto, embora não seja errado implementar o rate limiting no backend, é essencial reconhecer que essa abordagem implica responsabilidades adicionais, trade-offs de desempenho e desafios operacionais que precisam ser considerados com maturidade arquitetural.

    Gateways e WAFs protegem a aplicação ao controlar o tráfego antes que ele consuma infraestrutura

    Empurrar o rate limiting para camadas externas, como API Gateways (ex: Kong, Apigee, Azure API Management) ou WAFs (ex: Cloudflare, Azure Front Door), traz benefícios claros para arquiteturas mais complexas:

    • Intercepta tráfego malicioso antes que alcance o backend.
    • Centraliza as políticas de segurança, com aplicação consistente entre serviços.
    • Melhora a escalabilidade, com menos pressão sobre aplicações backend.
    • Permite dashboards e logs específicos para monitoramento e auditoria.

    Em marketplaces com alto volume de sellers, cada um com padrões diferentes de uso, ter um gateway configurado por tenant pode oferecer controle fino.

    A localização do rate limiting deve refletir a exposição da API, o volume de chamadas e a criticidade do negócio

    Não existe uma resposta universal. O local ideal para aplicar rate limiting depende do contexto e dos objetivos de negócio e operação. Algumas diretrizes práticas incluem:

    • APIs internas e de baixa escala: Middleware no ASP.NET Core pode ser suficiente.
    • APIs expostas na internet: Preferência por gateways com controle centralizado.
    • Cenários com requisitos de conformidade e segurança: WAFs trazem recursos avançados como detecção de padrões de ataque e integração com firewalls.
    • Soluções multicliente (multi-tenant): Exigem isolamento e controle granular que gateways oferecem com maior facilidade.

    Distribuir responsabilidades entre camadas evita sobrecarga e fortalece a arquitetura

    A decisão de onde aplicar o rate limiting impacta diretamente a manutenção, performance e segurança do sistema. No ASP.NET Core, o middleware nativo traz simplicidade e flexibilidade, mas impõe limites em cenários mais exigentes.

    Adotar uma abordagem distribuída, com controles em diferentes camadas (gateway + backend), pode trazer o melhor dos dois mundos: eficiência no bloqueio de tráfego indevido e controle fino no código da aplicação.

    Conclusão

    Adotar rate limiting não deve ser apenas uma medida técnica, mas uma decisão pensada dentro da estratégia de arquitetura e operação. Ao considerar o contexto da sua aplicação, seu nível de exposição e seus requisitos de escalabilidade e segurança, você ganha clareza sobre onde e como aplicar essa proteção.

    O ASP.NET Core oferece bons recursos, mas não resolve tudo sozinho. Use o que ele oferece com intencionalidade e, quando necessário, complemente com soluções externas que trarão robustez e governança para seu ecossistema de APIs.

    FAQ: Perguntas Frequentes

    1. O que é rate limiting no ASP.NET Core e por que devo usá-lo?

    Rate limiting é uma técnica que restringe o número de requisições que uma API pode receber em um determinado período. No ASP.NET Core, a partir da versão 7, é possível implementar essa funcionalidade por meio do middleware Microsoft.AspNetCore.RateLimiting. Utilizar rate limiting ajuda a proteger a aplicação contra abusos, garantir a disponibilidade do serviço e manter a performance estável, mesmo em cenários de alta demanda.

    2. Como implementar rate limiting no ASP.NET Core?

    Para implementar rate limiting no ASP.NET Core, siga os passos abaixo:

    a. Adicione o serviço de rate limiting no Program.cs

    b. Configure o middleware:

    c. Aplique a política aos endpoints:

    3. Quais são os tipos de algoritmos de rate limiting disponíveis no ASP.NET Core?

    O ASP.NET Core oferece quatro principais algoritmos de rate limiting:​

    • Fixed Window: Limita o número de requisições em janelas de tempo fixas.
    • Sliding Window: Semelhante ao Fixed Window, mas com janelas deslizantes para uma distribuição mais uniforme das requisições.
    • Token Bucket: Permite uma certa quantidade de requisições acumuladas, reabastecendo tokens em intervalos definidos.
    • Concurrency: Limita o número de requisições simultâneas que podem ser processadas.​

    Cada algoritmo atende a diferentes necessidades e cenários de uso, permitindo flexibilidade na implementação de políticas de acesso.

    4. É melhor implementar rate limiting na aplicação ou em um gateway/WAF?

    A escolha entre implementar rate limiting na aplicação ou em camadas externas, como gateways ou WAFs, depende do contexto:​

    • Na aplicação (ASP.NET Core): É mais fácil de configurar e ideal para ambientes com restrições orçamentárias. No entanto, as requisições já terão consumido recursos do servidor antes de serem limitadas.
    • Em gateways/WAFs: Permite bloquear requisições antes que alcancem a aplicação, economizando recursos e oferecendo uma camada adicional de segurança.​

    Para aplicações expostas à internet ou com alto volume de tráfego, é recomendável utilizar rate limiting em camadas externas.

    5. Como lidar com múltiplas instâncias da aplicação e manter o rate limiting consistente?

    Em ambientes com múltiplas instâncias da aplicação, é essencial garantir que o rate limiting seja consistente entre elas. Para isso:​

    • Utilize um armazenamento distribuído, como Redis, para compartilhar o estado do rate limiting entre as instâncias.
    • Implemente o rate limiting em um gateway ou WAF, que já opera antes das instâncias da aplicação e pode aplicar as políticas de forma centralizada.

    Essas abordagens evitam discrepâncias no controle de requisições e garantem uma aplicação mais robusta e escalável.

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    Tiago Tartari

    Tiago Tartari

    Eu ajudo e capacito pessoas e organizações a transformar problemas complexos em soluções práticas usando a tecnologia para atingir resultados extraordinários.

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